terça-feira, 4 de maio de 2010

Diario de Viagem ‘Eduardo Salavisa’

Vários foram os artistas que recorreram aos diários como auxílio do seu trabalho, registando esboços, projectos e impressões de viagem. Le Corbusier, Goya ou Delacroix são exemplos conhecidos e este volume inclui-os entre as primeiras páginas, traçando uma espécie de genealogia dos objectos que aborda. Mais do que uma antologia que reúne excertos dos diários gráficos de trinta e cinco autores, permitindo uma aproximação pouco usual ao seu trabalho, o livro de Eduardo Salavisa configura uma reflexão pertinente e bem documentada sobre o próprio objecto, tanto no sentido mais literal (o suporte físico as suas diferentes potencialidades) como no plano artístico, distinguindo funções e metodologias.
A portabilidade de um pequeno caderno permite ao seu possuidor utilizá-lo em circunstâncias diferentes das que rodeiam o trabalho no estúdio, associando-se com frequência às viagens. Essa característica acaba por conferir aos diários uma ausência de compromisso que, afastando-se do trabalho acabado, permite o registo fugaz e a impressão incompleta sem qualquer tipo de pressão. O objectivo destes diários não é a partilha ou a exposição (ainda que este livro o contrarie), mas sim a disponibilidade, uma superfície de trabalho que permite a construção regular e disciplinada de um determinado discurso ou de um mosaico de discursos resultante(s) da viagem ou da flannerie do seu autor.
Os diários aqui expostos dão conta da diversidade de tons permitida pelo gesto experimental, exploratório e não definitivo que configura um diário. Os desenhos de paisagens e cidades convivem com apontamentos escritos e com fragmentos materiais da própria viagem, como bilhetes, rótulos ou cartões de visita. Em alguns casos, o registo aproxima-se do trabalho quotidiano do seu autor, funcionando como caderno de campo (Pedro Salgado ou Lagoa Henriques, por exemplo). Noutros, as páginas são sobretudo o resultado da viagem, estruturando-se à medida que esta se desenvolve (Manuel João Ramos, Eduardo Salavisa ou José Maria Sanchéz). Em todos, o denominador comum do gesto (de desenhar, escrever, colar) como modo de ver e reflectir.

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